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terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Cidadania adere à energia solar

O Chile começa 2017 dando um passo inovador no desenvolvimento da energia solar, em que ostenta a primazia na América Latina, com a entrada em funcionamento de sua primeira central da cidadania. Esse país, com quase 18 milhões de habitantes, tem projetos de US$ 9 bilhões no setor de energias renováveis não convencionais (ERNC) durante os próximos quatro anos, em um esforço para romper sua alta dependência dos combustíveis fósseis, que ainda geram mais de 55% da eletricidade.


A Agenda de Energia, estabelecida em 2014 pela presidente socialista Michelle Bachelet, conta com participação de investidores internacionais, grandes companhias elétricas, os determinantes setores da mineração e agricultura, e da comunidade acadêmica. Agora somam-se os ecologistas, com o primeiro projeto para incorporar os cidadãos na produção e nos lucros que as ERNC geram, em particular a energia solar.

Trata-se de uma pequena usina fotovoltaica de 10 quilowatts, que usará a energia solar para gerar eletricidade de autoconsumo e injetar o restante na rede de distribuição geral. Isso permitirá aos “cidadãos acionistas” que participam da iniciativa receber uma rentabilidade estimada na inflação anual mais 2%. “A intenção é criar uma forma pela qual os cidadãos possam participar dos benefícios da energia solar e também do processo de democratização da energia”, explixou Manuel Baquedano, diretor do Instituto de Ecologia Política, que impulsionou essa iniciativa.

A Central Solar Buin 1 vai funcionar comercialmente a partir de meados deste mês, no município de Buin, na periferia sul de Santiago, e seu cliente principal será o Centro Tecnológico para a Sustentabilidade, que a partir de agora se abastece com a energia elétrica produzida pela Central. “Presenciamos no Chile um desenvolvimento muito importante da energia solar, fruto da pressão da sociedade que não quis mais represas. Abriu-se então um espaço muito grande para desenvolver as ERNC”, ressaltou Baquedano à IPS.

Entretanto, Baquedano acrescentou que o setor “está concentrado em grandes empreendimentos, como usinas solares que fundamentalmente abastecem o setor da mineração. E ficou pendente a possibilidade de todos os cidadãos poderem desfrutar de uma energia que é direta”. O ecologista contou que “decidimos nos organizar em um modelo de negócio que permita juntar investimentos da sociedade para instalar usinas solares comunitárias, não havendo estímulo do Estado e tampouco das empresas privadas”.

O modelo consiste em estabelecer a central onde haja um cliente que queira comprar 75% da energia, e o restante é vendido à rede. A Central Solar Buin 1 exigiu investimento equivalente a US$ 18,5 mil, que foram divididos em 240 ações de aproximadamente US$ 77 cada uma, e será seguida por outras semelhantes, possivelmente em San Pedro de Atacama, no norte do país, ou Curicó e Coyhaique, no sul da Patagônia chilena.

Entre os sócios há engenheiros, jornalistas, psicólogos, agricultores, pequenos empresários, e inclusive comunidades indígenas, de diversas localidades e todos interessados em replicar a iniciativa. Dionisio Antiquera, agricultor de origem diaguita que vive em Cerrillos de Tamaya, em Ovalle, 400 quilômetros ao norte de Santiago, comprou uma ação porque “gosto da energia renovável e por ser uma participação de cidadãos, das pessoas de baixa renda. São muitas as formas de participação em uma cooperativa”, contou à IPS por telefone.

A subsecretária do Ministério de Energia, Jimena Jara, falou à IPS sobre os avanços no desenvolvimento das ERNC e estimou que “o investimento nesse setor poderia rondar os US$ 9 bilhões entre 2017 e 2020. “Considerando os projetos que hoje estão em fase de testes em nossos sistemas elétricos, mais de 60% da capacidade de geração adicionada entre 2014 e 2016 será de energias renováveis não convencionais”, destacou.

A funcionária disse que “o Chile se propôs o objetivo de que 70% da geração de eletricidade até 2050 seja com energias renováveis e que até 2035 já esteja em 60%. Este boom das ERNC no Chile, especialmente solar e eólica, se sustenta em números fundamentais, como a baixa do custo da eletricidade. Até novembro de 2016, o custo marginal médio anual da energia no Sistema Interligado Central (SIC), que cobre a maior parte do território chileno, foi de US$ 61 por megawatt/hora (MWh), queda superior a 60% em relação aos preços de 2013.

O Centro de Despacho de Cargas do SIC destacou que esse custo marginal, que define o valor das transferências entre empresas geradoras, é o menor em dez anos, e ficou abaixo dos US$ 91,3 por MWh de 2015, e dos quase US$ 200 por MWh dos anos 2011 e 2012, provocados pelo intensivo uso do diesel.

David Watts, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Pontifícia Universidade Católica, apontou à IPS que “as energias eólica e solar há muito tempo oferecem custos bem competitivos” e por isso mudaram definitivamente a matriz energética chilena. “Antes o Chile não figurava nos rankings de energia renovável, e agora é o número um do setor na América Latina, e o segundo em energia eólica.

Segundo o especialista, “essa energia está penetrando fortemente e esperamos que em poucos anos faça muito mais quando entrar em serviço a bateria de projetos contratados na última licitação de clientes regulados”, aqueles que consomem menos de 500 quilowatts. Quando a economia recuperar seu dinamismo, após seu fraco crescimento atual, “esperamos que grande parte dos novos contratos de fornecimento a clientes livres (com potência conectada de pelo menos 500 quilowatts) também seja feita com projetos solares e eólicos competitivos”, ressaltou.

“Há uma mudança sem volta. A partir de agora, provavelmente somente de vez em quando se instalará um ou outro projeto convencional, se tiver custos realmente competitivos”, acrescentou Watts, que também é consultor em energia renovável do Ministério de Energia. Ele destacou que o crescimento das energias solar e eólica se deveu às mudanças na legislação, que facilitaram a oferta de energia por blocos e também a conexão simultânea das ERNC ao sistema de transmissão.

O informe do New Energy Finance Climatescope, elaborado pela Bloomberg junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), situou o Chile como o país que mais investe em energias limpas na América Latina, superado apenas pela China no índice que avalia as principais economias emergentes do mundo.

Ao comentar o informe, divulgado no mês passado, Bachelet declarou que “investimos US$ 3,2 bilhões em 2015, com ênfase na energia solar, especialmente nas instalações solares convencionais. Dissemos há três anos que o Chile ia mudar sua matriz energética e digo, com orgulho, que avançamos em ter energias mais limpas e sustentáveis”.

O metrô, outro exemplo

Uma mostra simbólica dos avanços da energia solar encontra-se no metrô de Santiago, que anunciou que 42% da energia que utilizará a partir de 2017 virá do projeto de energia fotovoltaica El Pelícano. Essa usina, da empresa SunPower, fica na comunidade de La Higuera, 400 quilômetros ao norte de Santiago, e seu custo foi de US$ 250 milhões.

“O metrô é um meio de transporte limpo, queremos ser uma empresa sustentável e o que ocorre hoje é um salto muito importante, já que para 2018 queremos estar funcionando com 60% de ERNC”, afirmou Fernando Rivas, subgerente de Meio Ambiente da companhia.

El Pelícano, com geração prevista de 100 megawatts, “utilizará 254 mil painéis solares, que permitirão o fornecimento de 300 gigawatts/hora por ano, ou o equivalente ao consumo de 125 mil domicílios chilenos”, enfatizou Manuel Tagle, gerente-geral da SunPower. 

Fonte: Envolverde

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