Colaboradores

Tecnologia do Blogger.

Seguidores

Arquivo do blog

Pesquisar neste blog

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

“Intervenções Cirúrgicas na Alma”

Este é o nome da exposição fotográfica de arte cemiterial de R. Romano

Muita gente pode ver os cemitérios somente como um local de tristeza, luto, saudade ou consternação. No entanto, as lentes do fotógrafo goiano R.Romano não. Os túmulos, mausoléus ele consegue enxergar lirismo, beleza e até certo sentimento de paz. E são estas sensações, que o artista transmite na exposição fotográfica de arte cemiterial Intervenções Cirúrgicas na Alma, que fica aberta para visitação até o próximo domingo (29), na Vila Cultural Cora Coralina.

São cerca de 80 registros, nos quais R. Romano deixou seu olhar vagar de forma inspirada, por sete cemitérios de Goiás. Os escolhidos foram o Cemitério Santana (de Goiânia), Cemitério Municipal de Trindade, Cemitério São João Batista (em Nerópolis), Cemitério Municipal de Palmeiras de Goiás, Cemitério Santo Agostinho (em Piracanjuba) e o Cemitério São Miguel (da cidade de Goiás e Rio Verde ).

A curadoria é da professora Sandra Prudente, que ajudou o fotógrafo a executar, segundo ele, a parte mais “dolorosa” do processo: a escolha das fotos. “Fiz muitas imagens. Em torno de quinze mil no acervo atual. É difícil para um pai , se apartar de todos os seus filhos e depois, ainda ter que escolher os mais queridos. É como forçar um camelo a passar pelo buraco de uma agulha (risos). Quando me canso de sofrer deixo nas mãos de Sandra Prudente”, revela.

Para conseguir o resultado que queria, R. Romano precisou de quatro anos para produzir e separar as imagens. As tantas visitas nos cemitérios fizeram R. Romano – que sempre gostou de lugares silenciosos – repensar a própria vida, e até criou um nome divertido para este momento de reflexão: “cemiterioterapia”. Os bastidores de Intervenções Cirúrgicas na Alma, suas experiências e paixão pela fotografia, o artista contou em entrevista ao Diário da Manhã. Confira trechos da conversa a seguir:

DMRevista: Por que nesta exposição escolheu fotografar cemitérios? E como escolheu estes sete que estão na mostra?

R. Romano:A fotografia cemiterial já faz parte da minha vida há algum tempo, mas ficou guardada. Protelei por diversas vezes fazer exposições porque imaginava precisar de mais tempo pra ter a descobrir o material que me deixasse satisfeito. Na fotografia nunca se encontra um limite. Cada dia, no mesmo lugar, é uma surpresa diferente. Movido pela emoção do trabalho, resolvi definir as fotos, sob um ponto de vista totalmente artístico e deixei de lado o aspecto técnico, iniciando essa experiência de dento para fora. Eu precisava admirar e entender primeiro aquilo que está mais perto de mim, para depois compreender coisas que estão distantes, e assim determinei sete deles, em municípios variados dentro do meu Estado. O “sete” não tem muito segredo. Na numerologia ele está relacionado diretamente com a paz interior, que é justamente o que preciso sentir antes de qualquer coisa que me proponho a fazer.

DMRevaaista: O que quis dizer quando escolheu este nome Intervenções Cirúrgicas na Alma, para a exposição?

R. Romano:Era pra se chamar: “A Sete Palmos”. Com a escolha desses sete municípios, me veio a ideia deste nome, para criar um duplo sentido na frase. Se do ponto de vista do vivo ou do ponto de vista do morto, acima ou abaixo da terra… Eu já tinha problemas com a escolha das quantidades e acabei arranjando outra dor de cabeça pra fazer a opção pela temática, porque eu queria misturar um pouco de arte sacra com cemiterial, uma vez que a imagem sacra está presente nos dois ambientes, foi ai que me ocorreu esse nome: “Intervenções Cirúrgicas na Alma”. Algo como se fosse uma incisão no espírito provocando sentimentos variados em pessoas diferentes com seus diferentes pontos de vista. Não se faz necessário pegar pesado nas fotos cemiteriais pra provocar sensações. Pode ser algo singelo, e é nessa simplicidade que se dão essas “intervenções”.

DMRevista: Quanto levou até reunir as fotografias? E como foi realizar este trabalho?

R. Romano: Comecei com a Arte Sacra e despertei um interesse maior pela cemiterial porque adoro os ambientes calmos pra trabalhar. O trabalho flui naturalmente, sem pressão! Não é como fotografar festa de formatura (risos). Para essa exposição, em específico, tenho material reunido de uns quatro anos pra cá. Para mim, está sendo uma verdadeira “cemiterioterapia” (risos), e sempre me utilizo do velho jargão, que é: “Aprender mais sobre a morte pra se aprender dar mais valor à vida”.

DMRevista: Teve alguma história, ou algum túmulo que te impressionou mais?

R. Romano:  Olha, curiosamente, não foi por nenhuma suntuosidade. O Cemitério da Consolação, em São Paulo, tem Mausoléus enormes, grandes mesmo.  Eu tenho um grande apreço pela arte tumular romântica, e grande interesse por esculturas quebradas, que me contam histórias, e me atrai também os nomes curiosos nas lápides. Mas, impressionado mesmo, fiquei com um túmulo revirado no município de Trindade. A pedra do túmulo vizinho caiu em cima da pedra desse outro túmulo e afundou a tampa o caixão, deixando à mostra o crânio envolto num tule branco por onde entrava uma fresta de luz do Sol. Eu fiz a foto, e ela não saiu da minha cabeça! Fiquei pensando: Putz! De repente, poderia ser eu ali, ou meus pais. Um sentimento muito estranho… Incomoda na lembrança, pelo respeito àquela pessoa.

DMRevista: Qual a ua primeira lembrança de amor à fotografia?

R. Romano: Então, quando criança meu pai tinha uma câmera antiga amadora. Um caixote preto, quadrado, que atendia pelo nome de “Kapsa”, da década de 50. Era estranha, parecia uma careta de robô, e eu fuçava nessa câmera pra brincar de qualquer coisa que não fosse fotografia, até que consegui destruí-la toda. Acho que essa foi minha primeira experiência com uma câmera fotográfica (risos).  Como eu era muito tímido, imagino que a linguagem da imagem satisfazia o meu mundinho, então comecei a comprar câmeras descartáveis e as levava para o cinema, escondida, com minhas ideias tolas de criança, pra tirar foto das telas, mas logo o flash me entregava e eu era convidado me retirar.

DMRevista: E quando foi que começou a fotografar profissionalmente?

R. Romano: Em 1993 me iniciei num curso de fotografia profissionalizante, aprendi em câmera manual, sem tecnologia para época. Preparava químicos por conta própria, para revelar filme preto e branco e tudo o mais. Depois, acho que na era digital, a praticidade foi tomando conta e hoje tudo é mais cômodo né? Até alguns anos atrás, tirei muita foto bacana com equipamento amador, mas não contava, só pra ver a reação autêntica das pessoas, porque tudo é muito caro nessa arte então penso que, entender da técnica é sempre bom, mas eu nunca me atrelei a ela. O que precisa ser feito, tem de ser feito e pronto. Que seja com equipamento amador, porque dentro da expressão da arte tudo é compreensivo se você tem um bom olhar para a fotografia.

DMRevista: O que é mais importante na fotografia?

R. Romano: É não deixar o momento escapar. Primeiro fala o coração, os olhos entram naquela sintonia e, então o dedo se move, tudo muito rápido e quando você se dá conta já fez um registro que vai ficar pra eternidade. Isso é o mais importante! Muitos perdem a oportunidade por terem uma ideia errônea de que tão somente o equipamento caro é o que vai te proporcionar as melhores fotos, ou até mesmo tem medo de mostrar suas fotografias por causas das críticas. Apreciem a arte! Faça-a, e esqueçam as críticas, porque a arte e a censura nunca vão ser as exemplares irmãs do bom senso. Como dizia Oscar Wilde: “Nos melhores dias da arte não existiam os críticos de arte”.



Fonte: Jornal DM

0 comentários:

Postar um comentário

Eco & Ação

Postagens populares

Parceiros